Entrevistámos Cristina Freitas, Professora Auxiliar do Departamento de Filosofia, Comunicação e Informação da Universidade de Coimbra, que atualmente é Diretora do Arquivo da Universidade de Coimbra e do respetivo Mestrado em Ciência da Informação.
(ARCHIVOZ) O seu CV é extraordinário e muito heterogéneo, quer do ponto de vista académico, que culminou no doutoramento em Biblioteconomia e Documentação, pela Universidade de Salamanca, em Espanha, à sua experiência de docência no Ensino Superior, mas também no trabalho que tem desenvolvido em inúmeros projetos e à vasta obra que tem publicada. Fale-nos um pouco do seu percurso formativo e profissional até chegar a Diretora do 2º Ciclo em Ciência da Informação, e subdiretora do respetivo Doutoramento, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e a Diretora do Arquivo desta mesma Universidade, cargos que desempenha na atualidade.
(Cristina Freitas) Agradecendo, naturalmente, a apreciação muito positiva que faz do meu CV, pondero que o meu percurso profissional foi visionado sempre numa perspetiva de tentar realizar uma leitura correta do contexto e de aproveitar as oportunidades que me iam surgindo. Foi, por isso, construído com muito trabalho e com o sentido assente no dever de colaboração com colegas e pares, visando o crescimento mútuo.
Quanto ao meu perfil eclético, devo dizer, primeiramente, que já no “Ginásio” eu demonstrava um claro interesse por três áreas aparentemente diferentes do conhecimento: História, Biologia e Matemática. No ensino superior, iria concretizar a Graduação em História, área com a qual trabalhei, diretamente, durante 10 anos, no Ensino Politécnico Federal Brasileiro, e a partir da qual pude erguer e sustentar, inclusivamente do ponto de vista financeiro, todos os meus percursos e projetos posteriores de formação. Desde então, os meus interesses permaneceram diversificados. Eu sempre tive uma muito boa capacidade para integrar a informação e a História contribuiu para o incremento dessa minha competência. Os cursos que escolhi e concluí vieram de uma necessidade de melhorar continuamente os conhecimentos que eu detinha, com vista a solidificar a minha posição e o meu papel como a profissional da área que, na minha visão de futuro, eu pretendia ser. Em segundo lugar, devo dizer que eu sempre gostei de estudar. Se entrevistasse os professores e as professoras que influenciaram a minha vida, desde a Escola Primária, a quem eu inclusivamente dediquei a minha tese de doutoramento, creio que a meu favor diriam que eu sempre fui muito estudiosa. De facto, eu sempre gostei de estudar e de aprender, fosse o que fosse. O mestrado e o doutoramento vieram, é verdade, da necessidade de um posicionamento na carreira, mas esta não foi a razão pela qual eu iniciei e concluí, com muitos constrangimentos e sacrifícios pessoais e profissionais, ambos os percursos. O verdadeiro leitmotiv foi aprofundar-me nos assuntos que realmente me interessavam (e que ainda interessam!).
A minha chegada à Universidade de Coimbra, para lecionar num curso que me acolheu, em 2010, pelas mãos de pessoas que acreditaram e que apostaram na minha contratação, tendo sido eu a segunda doutorada da área da Ciência da Informação a assumir a lecionação e a orientação de estudantes, naquele momento (a primeira, naturalmente, foi a Prof. Doutora Maria Manuel Borges, que me fez o convite para integrar o grupo), representou o início do culminar de várias situações na minha carreira e na minha vida. Certamente, por isso, vejo com muita humildade e com muita gratidão o facto de ter sido indigitada para os cargos e para as funções que assumi recentemente, e que serão, como tudo, momentâneos e passageiros. O seu exercício diário apenas reforça em mim o sentido do dever a cumprir e a consciência da necessidade de ensinar pelo exemplo e de gerir o que é “de todos/as e para todos/as” com parcimónia e com responsabilidade, agregando valor e conquistando novos espaços de interlocução para a de Ciência da Informação. Por isso, quando fui chamada para o exercício dessas funções, ponderei, mas não hesitei. Adiei alguns dos projetos profissionais individuais que possuía e decidi sair, uma vez mais, da minha zona de conforto. Talvez, por isso, o que espero obter no fim desses percursos seja uma pergunta inevitável. Para além de fazer alguma diferença, espero, muito sinceramente, que ao deixar os lugares que ocupei, possa retornar ao meu “habitat original” e desempenhar as funções que me forem confiadas, com a mesma alegria e sentido de missão com que procurarei responder ao que me estiver, no futuro, ainda reservado.
(ARCHIVOZ) O Arquivo da Universidade de Coimbra possui um notável acervo. Quais são os principais fundos e coleções que o compõem e os instrumentos de acesso à informação, com vista à comunicação dos mesmos? O que o distingue dos outros arquivos?
(CF) Eu diria que, “grosso modo”, o Arquivo da Universidade de Coimbra possui aproximadamente 10 Km de documentação, distribuídos por mais de meio milhar de fundos, com dimensões e suportes diferenciados e, ainda, com uma componente distintiva, que penso não ser do conhecimento geral: somos, ao mesmo tempo, um Arquivo Universitário e um Arquivo Distrital. Recorrendo a uma linguagem clássica e “jenkinsoniana”, ambas as valências nos foram conferidas – mas não só – graças à proveniência dos fundos e das coleções que custodiamos ao longo dos tempos. Evidentemente, e a meu parecer, o nosso fundo mais relevante e marcante será o que se constitui em torno da documentação produzida e acumulada pela própria Universidade de Coimbra, no decorrer dos seus muito bem cumpridos 731 anos de vida e de história. No exercício desta sua valência universitária, o Arquivo da Universidade recebe uma muito boa média de solicitações internas e externas, diárias e semanais, bem como de pedidos de reprodução de partes do seu riquíssimo acervo, para fins diversos. No que respeita à valência distrital, toda a documentação proveniente das Paróquias, dos Cartórios e dos Notários, que ao fim de certa “idade”, por invocar um termo schellenberguiano”, vai sendo incorporada nos depósitos do Arquivo da Universidade, é de grande relevância para as pessoas que sistematicamente recorrem aos nossos serviços, no exercício dos seus direitos e/ou no cumprimento das suas obrigações cidadãs para com o Estado português.
Relativamente aos nossos instrumentos de pesquisa de informação, a meu parecer, refletem a própria história e constituição do Arquivo da Universidade, e o labor minucioso dos/das seus/suas profissionais, pelo menos em dois momentos.
Num primeiro momento, deu-se na sua fase convencional, ou seja, antes do advento das ferramentas tecnológicas. Desta primeira fase, herdamos, sobretudo, mas não só, os índices que se encontram redigidos ou datilografados em fichas que na altura foram consideradas apropriadas para o efeito. Para além destes instrumentos, o Arquivo também possui um guia dos seus fundos e diversos outros inventários e/ou catálogos, totais ou parciais, produzidos em suporte papel e disponíveis à consulta interna na Sala do Catálogo e/ou na Sala de Leitura. Presentemente, dada a oportunidade oferecida pela organização das tarefas em teletrabalho, alguns desses instrumentos estão a ser objeto de conversão para o meio digital.
Num segundo momento, o Arquivo da Universidade passou a investir na aquisição de ferramentas tecnológicas, daí resultando a constituição do seu catálogo online, no qual são registadas e publicadas constantemente as representações normalizadas dos seus fundos e respetivos subníveis hierárquicos de informação, aos quais se associam as imagens digitais dos documentos representados. Uma das nossas linhas de ação passa inegavelmente pelo incremento e pela melhoria desse processo, com a divulgação em bloco de novas descrições associadas às imagens digitais que lhes correspondam, para, deste modo, atingir a partilha do conhecimento e o acesso à informação, contribuindo, pela nossa parte, com a democratização da ciência e com o acesso aberto. Eu espero, sinceramente, que, no futuro, todo este nosso esforço seja devidamente reconhecido.
(ARCHIVOZ) Um tema incontornável, desde meados de março de 2019, e que, infelizmente, continua na ordem do dia, é o novo coronavírus (SARS-CoV 2) e a COVID-19. Como Diretora do Arquivo da Universidade de Coimbra, quais têm sido os grandes desafios que tem enfrentado, ao nível da organização do trabalho interno, do atendimento ao público e da difusão da informação?
(CF) No Arquivo da Universidade, pesem os constrangimentos, temos procurado responder com eficácia aos correntes desafios. Diante de nós, desenhou-se um cenário turbulento, que obrigou a uma constante reengenharia de processos, alterando os procedimentos e a oferta de serviços, num curto ou curtíssimo espaço de tempo (em alguns casos, de 24 horas ou menos). Tudo isso, num primeiro momento, fez-me recordar os cenários que descortinei, na minha tese de doutoramento, que tinham como processo social básico a “mudança” ou o seu contrário: a resistência (à mudança). Recordei-me, por exemplo, dos depoimentos que recolhi da literatura científica, que revelavam o modo como os/as profissionais de arquivo reagiram quando foram surpreendidos pelos documentos eletrónicos… sobre como se sentiram ameaçados pelo caráter inevitável e irreversível das mudanças que se avizinhavam, ou sobre como, e quando, deixaram de oferecer resistência e assimilaram a mudança, encarando-a como um meio para atingir um fim: continuar a desempenhar, com eficácia e eficiência, o seu papel na sociedade. Resguardadas as diferenças, neste novo cenário distópico, provocado pela aventura de um vírus, que se desloca silenciosamente entre nós, obrigando-nos ao confinamento como meio de proteção e de prevenção, urgia encarar o momento como uma oportunidade, não como uma ameaça. No Arquivo da Universidade, procuramos encetar ações concretas no sentido de: a) proteger as pessoas (utilizadores/as e colaboradores/as) e garantir o seu acesso aos meios e aos recursos que lhes permitissem prosseguir, dentro e fora do espaço físico do Arquivo, com o seu trabalho diário; b) manter a ligação entre o corpo técnico e a direção, consolidando rotinas e processos de trabalho, no período de confinamento, valendo-nos, nesse intento, das ferramentas tecnológicas disponíveis; c) prosseguir, tanto quanto possível, com os serviços de informação e de atendimento dos/as utilizadores/as, concentrando os esforços nas plataformas online e privilegiando as formas virtuais de contacto, em detrimento das formas presenciais, que tiveram de ser interrompidas ou limitadas em diversos e prolongados momentos; d) reforçar os meios de comunicação/divulgação virtual.
Volvidos 11 meses, devo dizer que todo esse esforço adaptativo foi sendo conquistado pelo Arquivo da Universidade, graças ao apoio e ao empenhamento inegável dos seus trabalhadores e trabalhadoras, que dada a gravidade do momento, não hesitaram em colaborar, para que as dificuldades fossem ultrapassadas e os trabalhos fossem realizados, mitigando os impactos negativos das medidas adotadas. Os relatos que tenho tido a oportunidade de conhecer de outros casos e realidades, revelam que esse esforço exemplar terá ocorrido um pouco por todo o lado, nas instituições congêneres, não sendo, pois, um ato isolado do Arquivo da Universidade.
(ARCHIVOZ) Considerando a sua significativa experiência como docente em Ciência da Informação (CI), sendo que é Professora na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde leciona disciplinas do currículo dos três ciclos de estudos em CI, a que se junta a orientação e arguição de inúmeras dissertações de mestrado, teses de doutoramento e estágios extracurriculares, quais pensa serem as tendências atuais de investigação em CI em Portugal e as que importa desenvolver?
(CF) Seguindo por uma linha de continuidade com a questão anterior, e por força dos constrangimentos mundiais que todos/as conhecemos, a meu parecer, uma das fortes tendências de investigação, atualmente, é a COVID-19 e os seus impactos nas instituições de informação, como sejam: arquivos, bibliotecas, museus, etc. Creio que este ainda será um tema que permanecerá na ordem do dia por algum tempo, até porque, ainda nos encontramos sob a influência e o curso desses fenómenos, o que dificulta a realização de análises mais completas, que terão de ser realizadas a posteriori. De igual modo, verificamos a persistência de temas já conhecidos da agenda da Ciência da Informação, nos últimos 30 anos, e que continuarão a estar presentes, julgo eu, nos próximos anos. Refiro-me, por exemplo, às questões que mais recentemente atendem pelos termos transição digital ou transformação digital e que, no passado, identificavam-se com a modernização tecnológica e com a emergência e o papel do profissional da informação nesse âmbito. Também vejo como certa a ampliação dos debates em torno da sustentabilidade da profissão e dos novos papeis a assumir pelos profissionais de informação, homens e mulheres, no âmbito da pós-verdade, das fake news, da infodemia e das novas realidades distópicas à volta das supostas sociedades da informação e do conhecimento. Qual é o papel a desempenhar por cada um de nós nesses novos e caóticos universos informacionais? Ainda, num outro nível de granularidade, creio que assistiremos o aprofundar dos estudos em torno dos sistemas e das estruturas de organização do conhecimento – com um evidente destaque para as ontologias e as taxonomias aplicáveis aos conteúdos disponibilizados online – , bem como as questões que envolvem a utilização e a reutilização dos dados, com a sua consequente divulgação na comunidade, algo que de momento se nos afigura como fundamental para a construção e a democratização da ciência. Naturalmente, não é – e não creio que será – de menosprezar, o papel que a Ciência da Informação e que os/as profissionais de informação terão de desempenhar nesses entornos.
(ARCHIVOZ) Desde 2014, que se encontra ligada ao Projeto que visa a produção de um plano de classificação da informação arquivística comum para as Instituições de Ensino Superior Portuguesas, conforme à Macroestrutura Funcional, desenvolvido em colaboração com a Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas. O que nos pode dizer dos objetivos, resultados e intento futuro deste projeto?
(CF) Este, para mim, foi um dos projetos mais interessantes de que participei. Poderia estar aqui a descrever, em muito mais do que uma página, um pouco de toda a riquíssima experiência adquirida na minha relação com este projeto e com as pessoas nele envolvidas, mas creio que mesmo que fosse bem-sucedida a relatar os factos, não faria a devida justiça a todo o processo construtivo e coletivo experienciado ao nível dos Grupos de Trabalho constituídos. O projeto, na verdade, desdobrava-se em duas vertentes: por um lado, visava encontrar soluções comuns para o passivo documental acumulado pelas instituições cooperantes e que deveria ser objeto de decisões de avaliação com incidência retrospetiva; por outro, pretendia-se olhar para o presente e para o futuro da documentação produzida e acumulada diariamente nestas mesmas instituições cooperantes, com vista a encontrar, coletivamente, soluções prospetivas e que resultassem benéficas para a sua classificação e avaliação. O resultado mais visível do projeto foi a produção, por um lado, de um Relatório de Avaliação da Documentação Acumulada (RADA), em vigor e em aplicação pelas diversas entidades do país, desde 2016; por outro lado, espera-se, para este ano de 2021, a aprovação e a consequente publicação do Regime Jurídico da Classificação e Avaliação da Informação Arquivística (RJCAIA), dispositivo que irá sintetizar e consolidar, na prática, todo o esforço coletivo de anos de trabalho e de conhecimento incorporado e partilhado pelos diversos GT envolvidos na sua construção e diretamente coordenados pela Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB). Trata-se, pois, de ferramentas técnicas conectadas com uma realidade permeada pela necessidade de obter uma necessária interoperabilidade, ao nível semântico e de sistemas, com uma evidente importância para a comunidade arquivística, por um lado, e para a administração pública portuguesa, por outro, com a clara vantagem de que foram conquistadas por um coletivo, dentro de um espírito de partilha de informação e de conhecimento, o que as legitima.
(ARCHIVOZ) É membro doutorado integrado do Centro de Investigação CEIS20 (Universidade de Coimbra), do Grupo ARBIDOC (Universidad de León) e do Grupo Teresa Andrés (Universidad de Salamanca). O que nos pode dizer, tanto quanto possível, dos projetos em que se encontra envolvida?
(CF) O CEIS20 é o meu centro de investigação principal. Toda a minha produção científica, bem como a produção científica de vários dos doutorandos e doutorandas do Curso de Doutoramento em Ciência da Informação da Universidade de Coimbra, naturalmente, contabilizam a favor deste Centro. Para além disso, anualmente, são organizadas atividades de investigação (e.g., Summer Schools, Jornadas dos Estudantes de Doutoramento em Ciência da Informação) das quais tenho participado e com as quais tenho colaborado. Pelo mesmo motivo, procuro participar dos encontros científicos promovidos pelo próprio CEIS20, para dar a conhecer a investigação e os investigadores e investigadoras do Centro, bem como os seus potenciais interesses de investigação. Quanto aos projetos, no passado recente, submetemos duas propostas na área da organização da informação em arquivos, à FCT, sem, contudo, termos obtido um parecer favorável ao seu financiamento. Outros projetos sem a participação de agências de fomento têm sido alvo de consultorias nossas. O meu envolvimento no CEIS20 é, pois, sensivelmente, na qualidade de membro integrado e ativo, e é dentro deste enquadramento que tenho procurado levar o bom nome do Centro, quer nos vários encontros científicos de que participo, quer nas publicações que assino.
O meu envolvimento com o grupo ARBIDOC, sediado na Universidade de León, vem de uma excelente parceria que eu e a minha colega e amiga, a Prof. Doutora Maria da Graça Simões, firmamos, desde o nosso doutoramento, com a Prof. Doutora Blanca Rodríguez Bravo, e que resultaram em algumas publicações em colaboração, e também da minha especialidade no estudo de temas que são do interesse desse grupo, nomeadamente, no âmbito da Organização de Conteúdos Digitais. Mais recentemente, fui convidada a integrar o Grupo Teresa Andrés, da Universidade de Salamanca, pelo Prof. Doutor José António Frías, dada a minha estreita afinidade e, sobretudo, ao meu percurso de investigação naquela Universidade, onde concluí, há 11 anos, o meu doutoramento. Neste último caso, devo dizer que a minha participação não tem sido tão efetiva.
(ARCHIVOZ) Por último, quais são os principais desafios e oportunidades que se colocam aos profissionais da informação na atualidade?
(CF) Nós temos muitos desafios e muitas oportunidades à nossa frente. As tecnologias de informação e comunicação seguirão o seu processo irreversível e incontornável de mudar as diferentes formas de agir, de pensar e de perceber a sociedade. Por isso, teremos de prosseguir com a nossas atitudes proativas (no sentido de não reativas) e pós-custodiais (no sentido genuíno do termo, ou seja, transpor, sem negar, as medidas custodiais), na busca por alternativas que nos façam ultrapassar as ameaças e os constrangimentos do momento, transformando-os em oportunidades produtivas. Terá sido assim no passado recente e creio que será esse o desafio a enfrentar, num futuro próximo. Aprender pela observação e pela experimentação foi, e será, muito importante nos contextos que se desenham hoje e que provavelmente desenhar-se-ão no futuro.
Diante de um tal panorama, creio que uma possível resposta passará pela formação e pela qualificação constante desses/dessas profissionais de informação. Uma sociedade que se pretende realmente como do conhecimento não pode ignorar o papel que a boa e correta leitura do contexto desempenha na produção e na partilha do próprio conhecimento. A meu parecer, o desenvolvimento de habilidades e de competências consideradas transversais será também algo a não perder de vista no exercício da nossa profissão. Presentemente, e graças aos nossos avanços no terreno normativo, dialogamos mais e melhor com outras áreas do conhecimento, e julgo que será preciso manter esta vocação multi-inter-disciplinar da Ciência da Informação, no futuro, pelo que lançar mão de competências que nos habilitem à leitura correta do contexto, que incrementem a nossa capacidade de integração e de interpretação da informação, aliadas a posturas profissionais conectadas com a aprendizagem ao longo da vida e com atitudes sistemáticas e proativas que facilitem a assimilação da mudança, preservando o conhecimento acumulado e os valores e as posturas essenciais que enformam a profissão, parecem-me ser cruciais para a nossa sustentabilidade e dos nossos serviços, no futuro.
Terminarei, com um conselho que ofereço frequentemente aos/às estudantes e que procuro aplicar na minha vida profissional: teremos de ser suficientemente generalistas, para perceber globalmente o meio em que nos inserimos, e adequadamente especialistas, para pensar e agir localmente, nos ecossistemas informacionais, buscando e encontrando novas soluções, ainda que sejam para resolver velhos problemas. Vejo esta como uma atitude ecológica.
Na viragem do atual milénio, ao analisar a “animalidade” e a “humanidade do conhecimento”, Edgar Morin, um pensador que eu admiro, não tanto pela longevidade, mas, principalmente, pela assertividade e atualidade das suas ideias, nos falava de um Ser Humano que computa o suficiente para compreender o meio e que cogita ao máximo para solucionar os problemas que identifica nesse meio. Analiso o futuro da profissão a partir desta relação entre o computar e o cogitar, permeada por uma outra relação de igual importância, que é a que se estabelece entre informação e conhecimento… onde uma (a informação) termina, o outro (o conhecimento) principia. Julgo que será interessante ver como essas forças irão mover-se e mover-nos daqui por diante.
Entrevista realizada por: Paulo Jorge dos Mártires Batista