(Archivoz) Fale-nos um pouco do seu percurso académico, formativo e profissional, até chegar às funções que desempenha atualmente, como Diretor da Casa-Museu Elysio de Moura.
(Milton Pedro Dias Pacheco) Vindo diretamente de Alvalade, no Alentejo, o meu percurso académico teve início em 1999, com o ingresso na licenciatura de História, variante de História da Arte, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, instituição superior onde continuei com os estudos de mestrado e depois os de doutoramento também no mesmo campo disciplinar da História da Arte. Depois de estudar a coleção de relicários provenientes da Igreja do Colégio de Jesus de Coimbra – hoje a concatedral de Coimbra – no âmbito do projeto final de licenciatura, avancei com o estudo da evolução espacial e da constituição material do primitivo edifício do Paço Episcopal de Coimbra – o atual Museu Nacional de Machado de Castro – como tema da dissertação de mestrado, projeto de investigação que me alargou os horizontes sobre um vasto e admirável mundo novo da cultura científica e me fez enveredar pela carreira académica. Desde então nunca mais abandonámos os estudos de história da Arquitetura de matriz palatina. Esta dissertação foi fundamental para projetar o meu plano de doutoramento centrado, precisamente, na arquitetura dos palácios inquisitoriais portugueses, cuja redação se finaliza em breve e que só foi possível avançar com a obtenção de uma bolsa concedida pela Fundação para Ciência e Tecnologia. Portanto, o tema da arquitetura palatina – episcopal, régia, inquisitorial e, mais recentemente, a diplomática – assume-se, assim como a nossa principal área de investigação científica em História da Arte. Contudo, as múltiplas funções profissionais e institucionais assumidas na principal cidade do Mondego, logo após a conclusão da licenciatura, em 2003, foram permitindo (e obrigando) a estender a nossa investigação para outros campos de estudo e também de trabalho. Terminada a licenciatura, enfrentámos um raro dilema no campo das Ciências Sociais e Humanas, pois tínhamos quatro opções de empregabilidade: três em Coimbra e uma em Almodôvar, bem perto da terra natal. Com alguma diplomacia, interna e externa, foi possível conciliar duas propostas: integrar a equipa do Gabinete de Candidatura da Universidade de Coimbra a Património Mundial da UNESCO, um projeto tutelado pela Reitoria da Universidade de Coimbra que foi alcançado em Junho de 2013 com a classificação do Bem Universidade de Coimbra: Alta e Sofia; e ingressar no Departamento de Bens Culturais da Diocese de Coimbra, um projeto centrado na inventariação, estudo e conservação do património arquitetónico, integrado e móvel da mesma diocese, trabalho este que acabou por ser alargado à Confraria da Rainha Santa Isabel, irmandade onde assumi funções de mesário com responsabilidades na gestão do património artístico e histórico proveniente do Mosteiro de Santa Clara de Coimbra (com vínculo não profissional). Entretanto, o ingresso no Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos da Universidade de Coimbra e no CHAM – Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa e da Universidade dos Açores foram decisivos para que a investigação científica em História da Arte, nos seus múltiplos domínios, fosse uma opção profissional essencial, definitiva e irreversível. Na atualidade, estes centros de investigação são da maior relevância para a promoção da ciência e da cultura científicas em Portugal. Uma boa parte dos nossos projetos nunca poderia ter avançado sem o seu apoio institucional. Ora, as funções desempenhadas em algumas das principais instituições conimbricenses foram, assim, basilares para poder aceitar o último desafio profissional nos primeiros dias de Janeiro de 2016: a organização museológica da Casa-Museu Elysio de Moura e a criação de um circuito de visita no Colégio de Santo António da Pedreira, o assento da Casa da Infância Doutor Elysio de Moura, a instituição que tutela e a que pertence a Casa-Museu Elysio de Moura. Aceitámos o desafio de imediato, quase por instinto, quando nos apercebemos da principal missão que nos iria ser confiada. E no âmbito da gestão da Casa-Museu Elysio de Moura acabámos por assumir funções complementares na Associação Portuguesa de Casas-Museu, primeiro como secretário e agora como vice-presidente/tesoureiro, e na Coimbra | Rede de Museus, como um dos três membros do grupo de gestão nomeado. Pertencemos ainda, desde 2016, à Sociedade Portuguesa de Estudos de História da Construção, tendo sido muito recentemente convidados para assumir funções de secretário do Conselho Fiscal. Tem sido uma jornada intensa, mas muito, muito gratificante, pelos projetos desenvolvidos e, sobretudo, pelas pessoas com quem tenho tido o privilégio de trabalhar.
(Archivoz) O que nos pode dizer acerca das origens e a história desta Casa-Museu?
(Milton Pedro Dias Pacheco) As origens da Casa-Museu Elysio de Moura estão profundamente associadas à história longa da própria instituição assistencial destinada ao acolhimento de crianças e adolescentes provenientes de ambientes familiares desestruturados, o primitivo Asylo da Infância Desvalida de Coimbra, a atual Casa da Infância Doutor Elysio de Moura. Fundada pela Sociedade de Beneficência Protectora da Infância Desvalida – instituída no seio da Reitoria da Universidade de Coimbra no ano 1835 –, a instituição de acolhimento iniciou funções, primeiro como uma unidade escolar, em 1836, e logo depois como Asylo da Infância Desvalida de Coimbra, em 1837, com valências de acolhimento permanente. Desde o primeiro momento, os lentes da Universidade de Coimbra participaram, tal como hoje, neste empreendimento assistencial de amparo, apoio e proteção à franja mais vulnerável da nossa sociedade. Destinada inicialmente à formação educacional de doze crianças – seis meninas e seis meninos –, ainda em 1837 passou a acolher internamente essas mesmas crianças, em virtude das necessidades que enfrentavam no duro quotidiano da cidade. Nesse mesmo ano, o Asylo ocupou o então devoluto Colégio de Santo António da Pedreira, um dos três colégios franciscanos considerados para a sua instalação, e cuja propriedade e usufruto plenos foram concedidos pela Rainha D. Maria II [1819|1834-1853] em 1850, mantendo, na atualidade, essas mesmas funções de acolhimento de crianças e adolescentes. Entretanto, em 1912, provavelmente como consequência do estabelecimento da I República e das novas políticas implementadas, o Asylo passou a acolher somente as crianças do sexo feminino. Onze anos mais tarde, em 1923, com a chegada à presidência do reputado docente e clínico de neuropsiquiatria da Faculdade de Medicina e dos Hospitais da Universidade de Coimbra, Professor Doutor Elysio de Azevedo e Moura [1877-1977], a instituição foi alvo de uma enérgica e ampla transformação nos anos seguintes. Para termos uma percepção real, quando o Doutor Elysio de Moura tomou posse da presidência interina da direção do Asylo da Infância, em 1923, estavam acolhidas cerca de nove crianças e, depois, em 1941 – quando a Europa se tornou palco da II Guerra Mundial –, estavam institucionalizadas duzentas e quinze Meninas! Mas estes números, recolhidos em fontes documentais, são muito frágeis… pois o número de crianças acolhidas pode ter sido bastante superior. Um colega do Doutor Elysio de Moura, no decurso da sua cerimónia de jubilação, em 1947, agradeceu ao homem que cuida de uma instituição com quase trezentas crianças! Ao assumir esta missão, conjuntamente com a sua dileta esposa, a Senhora Dona Celestina de Araújo Salgado Zenha [1881-1945] (de Azevedo e Moura após o matrimónio contraído em 1908), o Doutor Elysio decidiu construir a sua residência em terreno que era propriedade do Asylo já com a condição de, após o falecimento de ambos, o edifício residencial e todo o recheio reverter para a instituição, o que acabaria por acontecer em 18 de Junho de 1977, com o óbito do nosso Patrono. A esposa faleceu vários anos antes, em 1 de Novembro de 1945, continuando o Doutor Elysio a zelar pelas suas Meninas até ao final da vida, muito provavelmente, ainda com maior zelo para honrar a memória daquela que apelidámos, no âmbito de uma comunicação, a (Ma)Dona da Casa! E importa salientar que Dona Celestina desempenhou um papel primordial neste projeto presidido institucionalmente pelo Doutor Elysio, não só ao aplicar toda a fortuna herdada da família, como ao congregar todos os esforços junto das elites conimbricenses da primeira metade do século XX para apoiar esta nobre Ca(u)sa. Como forma de agradecimento, os membros da direção em exercício na década de 1960 propuseram a mudança do nome da instituição para Casa da Infância Doutor Elysio de Moura, alteração ocorrida em 11 de Agosto de 1967, por ocasião do seu nonagésimo aniversário, celebrado no dia 30 do mesmo mês. Com o falecimento do Doutor Elysio, em Junho de 1977, a instituição, por deliberação testamentária, passou a ser proprietária do edifício residencial do casal e tornou-se na sua herdeira única e universal. E assim, quase quarenta anos depois, a direção então em funções considerou ser da mais elementar justiça dignificar a memória dos dois grandes patronos da instituição através da criação da Casa-Museu Elysio de Moura. Tendo em conta a personalidade do Doutor Elysio de Moura, julgamos que o próprio não iria gostar de ver a sua casa devassada e transformada em museu, mas perante a oportunidade de lhe explicarmos o propósito com que o fizemos, estou certo que ele concordaria de imediato, esboçando um afetuoso sorriso seguido de algumas gentis palavras.
(Archivoz) Gostaria que nos apresentasse a Casa-Museu Elysio de Moura no que respeita às suas coleções museológicas. O que distingue a Casa-Museu Elysio de Moura das outras casas-museu?
(Milton Pedro Dias Pacheco) Diríamos que esta é uma casa-museu diferente de todas as outras… não pelas suas coleções, não pela arquitetura do edifício, mas sim, seguramente, pela missão que move toda a unidade museológica! Procurando cumprir os desejos do Doutor Elysio de Azevedo e Moura e de Dona Celestina Salgado Zenha, a sua residência – agora transformada em Casa-Museu Elysio de Moura – continua, apesar das funções museológicas, culturais e científicas, a laborar em prol das nossas Meninas. Em primeiro lugar, o projeto educativo implementado visa tornar o edifício residencial-museológico num espaço privilegiado para a formação intelectual, a instrução moral e a diversão social das nossas Meninas, através da realização de múltiplas atividades promovidas, interna e externamente, com o propósito da sua total integração pessoal e com o intuito de permitir a criação de “memórias afectivas” durante o período de acolhimento. Quando digo às nossas Meninas que o Doutor Elysio e a Dona Celestina deixaram a Casa para seu usufruto, elas ficam com uma satisfação incomensurável… para, logo em seguida, perguntarem se podem cá dormir alguma noite! E de modo que o público entenda o próprio compromisso assumido pelas nossas Meninas acolhidas em participar neste projeto da Casa-Museu podemos dizer-vos que o desenho presente do logótipo é da autoria de uma delas, ao tempo a mais pequenita, após um concurso realizado com elas. Em segundo lugar, todos os projetos concretizados visam não só perpetuar o nome dos mais comprometidos patronos da Casa da Infância, mas também angariar receitas financeiras e donativos em géneros destinados a providenciar e a colmatar as necessidades do quotidiano das nossas Meninas. Ao contar a história longa e incrível deste casal, do compromisso honrado para com milhares de crianças ao longo de mais de meio século, as pessoas ficam sensibilizadas e procuram ajudar dentro das suas possibilidades, tal como acontecia em vida de ambos. E embora não possamos esquecer, de modo algum, o contributo e o esforço de muitos outros presidentes desde o momento da criação da instituição em 1837, o esforço deste casal foi inigualável até hoje! O programa de musealização concebido para a Casa-Museu Elysio de Moura visou, naturalmente, a recuperação arquitetónica do imóvel, a estabilização material de todos os objetos que hoje formam as suas coleções e a sua consequente disposição e apresentação em contexto museológico, não num museu, mas sim numa casa-museu, considerando, portanto, todas as premissas de um espaço residencial com ocupação vivencial. Privilegiámos, desde o primeiro momento e, de forma inquestionável, o carácter residencial e vivencial do edifício, face às diretivas impositivas da museologia. Por exemplo, decidimos não implementar e introduzir mecanismos, aparelhos e dispositivos identificadores nas peças de maior relevância dispostas na Casa-Museu, optando, ao invés, por folhetos e outros materiais de suporte, totalmente amovíveis e removíveis, consoante a tipologia das visitas promovidas e dos eventos temáticos organizados. Procurou-se, propositadamente, recuperar o espaço vivencial dos seus moradores, com o mínimo de interferência possível, com exceção de dois ou três inevitáveis módulos expositivos, mas sem nunca negligenciar o plano de segurança dos visitantes e das coleções. Resumindo, a Casa está praticamente pronta a habitar! Após a conclusão dos estudos preliminares iniciados nos primeiros meses de 2016, centrados principalmente na consulta da documentação existente – os fundos da instituição e os do casal, ambos com muitas lacunas materiais cronológicas – decidiu-se avançar com a pesquisa, a análise e a observação do edifício e das suas coleções, seguindo-se depois, no ano seguinte, o início das obras de beneficiação do espaço edificado e a recuperação do muito mobiliário. Posteriormente, e em diferentes fases, avançou-se com a limpeza, a manutenção e a inventariação do património móvel. As coleções da Casa-Museu Elysio de Moura são constituídas por espécimes de uso comum a todas as residências daquela primeira metade do século XX (e continuamente acrescentadas até ao ano de 1977): mobiliário, instrumentos de música, registos fotográficos, vestuário e demais apetrechos de moda, joias, utensílios de refeição, materiais de escrita e leitura, de arquivo e de biblioteca, coleções de pintura e de gravura, de escultura e de medalhística, de insígnias, condecorações, insígnias e diplomas académicos, científicos e institucionais, de instrumentos e apetrechos da disciplina médica e clínica que denunciam os vínculos profissionais de um dos seus residentes. Entre as demais coleções, o grande público manifesta particular interesse por três: os instrumentos e utensílios médicos do Doutor Elysio, as roupas e as joias da Dona Celestina e as muitas fotografias das crianças institucionalizadas. Para estruturar o programa de concepção, de organização e de exposição de todas as categorias de coleções recorremos, naturalmente, aos registos fotográficos existentes, aos documentos conhecidos e aos testemunhos orais dos mais antigos funcionários e colaboradores da instituição. Por essa mesma razão importa expressar o nosso agradecimento à Direção da Casa da Infância Doutor Elysio de Moura, na pessoa do presidente da Direção, o Professor Doutor Manuel Ferro, e a todos os seus funcionários, embora sejam merecedores de um agradecimento individual o Senhor João Veiga, a D. Maria Elisa Silva, a D. Carina Tavares, a Dra. Ana Paula Sacramento e todas as nossas Meninas que estão e/ou passaram pela instituição desde os primeiros dias de Janeiro de 2016. Complementarmente ao núcleo expositivo permanente foram ainda organizadas exposições temporárias temáticas e celebrativas, centradas, naturalmente, nas coleções provenientes da Casa-Museu, permitindo assim conferir um maior destaque às referidas peças, pois, como se compreende, a sua apresentação em contexto expositivo vivencial de uma residência pode anular a apresentação das próprias peças.
(Archivoz) O que nos pode dizer sobre a abertura da Casa-Museu Elysio de Moura à comunidade, quais as atividades desenvolvidas de forma a alcançar esse objetivo?
(Milton Pedro Dias Pacheco) O projeto da Casa-Museu Elysio de Moura visou, desde o primeiro momento, procurar envolver as nossas Meninas, a população residente em Coimbra e as contínuas gerações de docentes e discentes ligadas à Universidade de Coimbra, num esforço amplamente promovido pelo Doutor Elysio de Moura. Naturalmente que, em virtude da missão da unidade museológica agregada à instituição assistencial, esta é uma Casa-Museu aberta a todos, todos e sem quaisquer exceções: visitantes e investigadores locais, regionais, nacionais e estrageiros, a todos os interessados em conhecer a história longa da instituição e, sobretudo, envolver-se na sua missão, através de possíveis ações educativas, formativas e culturais. Ora, os projetos expositivos e científicos têm um papel fundamental no recrutamento de novos públicos, em virtude também das novas e variadas temáticas exploradas sempre em torno da história da instituição, como já ficou frisado. O público, mesmo o não especializado nestas matérias, é sempre muito exigente! Dadas as nossas valências académicas e considerando as muitas funções profissionais desempenhadas até ao momento, quer em instituições quer em centros de investigação, procurámos promover uma agenda cultural regular. No campo da programação centrada em exposições temporárias periódicas privilegia-se, sempre, o espólio proveniente das coleções do Doutor Elysio de Moura e da Dona Celestina, da primitiva comunidade franciscana responsável pela ocupação do edifício colegial entre 1602 e 1834, e, naturalmente, da própria Casa da Infância. Aliás, todos os acervos identificados são pertença da nossa Casa-Mãe! Entre os projetos expositivos promovidos, destacaria os três últimos: Manuel Jardim. Fase preparatória. Os desenhos-exame da Escola de Belas-Artes de Lisboa na coleção de Elysio de Azevedo e Moura e Celestina Salgado Zenha, realizada em colaboração com Luísa Arruda, em 2023; Na Intimidade da Casa. Joias, adereços e pertences de Celestina Salgado Zenha, organizada com o apoio de Valentina Battaglini e encerrada em 18 de novembro de 2024 – após um prolongamento de modo a coincidir com os dias do “VIII Fórum Ibérico de Estudos Museológicos” que decorreu em Coimbra –; e, por último, a instalação artística e interativa Sussurros entre Flores, projeto concebido no âmbito da XXVI Semana Cultural da Universidade de Coimbra, em 2023, que reuniu as obras executadas pelas nossas Meninas sob a supervisão artística de Daniela Ferreira, Sofia Sobral Ramos, Sara Ataíde e Marta Costa. Além do módulo expositivo complementar colocado na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, este projeto artístico tornou-se itinerante, tendo sido já apresentado no Museu Municipal de Oliveira do Bairro e no Museu Municipal de Vouzela graças ao apoio da Casa Académica em Lafões e dos respetivos municípios, após termos aceitado o desafio proposto por Clara Vieira, uma dedicada amiga das nossas Meninas. Como fica demonstrado, o património humano continua a ser a nossa melhor referência e a nossa essência mais singular! Além dos cerca de vinte e cinco congressos, colóquios, seminários e eventos em que participámos desde 2016, durante os quais apresentámos número idêntico de comunicações e palestras das áreas patrimoniais, históricas, artísticas e museológicas da Casa-Museu e da própria Casa da Infância Doutor Elysio de Moura. Concretizámos já vinte e dois eventos científicos, uns promovidos pela própria Casa-Museu e outros em colaboração com outras entidades académicas e científicas nacionais. Entre as nossas participações destacaria a assiduidade nos ciclos do Congresso Internacional: História da Loucura, Psiquiatria e Saúde Mental/ Simpósio Internacional: Mulheres e Loucura, organizados pela Sociedade de História da Interdisciplinar da Saúde, eventos que nos têm permitido explorar inúmeras linhas de investigação em torno do nosso Patrono, um reputado neuropsiquiatra do seu tempo. Além de todos os projetos expositivos, circuitos temáticos, lançamento de livros – académicos, literários e infantis (o último foi precisamente a obra infantil Afonso e Axolote Mágico da autoria de Paulo Batista) – e eventos científicos organizados a partir da Casa-Museu Elysio de Moura, destacaríamos o ciclo de palestras O Património e a Palavra como uma das atividades que mais nos permite contactar, de forma direta, próxima e regular, com o grande público, através de sessões semanais com duas palestras diárias entre Setembro e Julho. Com o intuito de promover a cultura científica fora do contexto académico universitário, o ciclo de palestras foi criado pelo Professor Doutor José Ribeiro Ferreira, há mais de vinte de anos na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e, mais tarde, no ano de 2014, confiado à direção científica do Professor Doutor Manuel Ferro. Entretanto, nos últimos meses de 2018, já após a abertura da Casa-Museu, fomos convidados a assumir a coordenação técnica do ciclo de palestras e, a partir de 2022, chamados a integrar a direção científica em parceria com o Professor Doutor Manuel Ferro. Julgamos estar no bom caminho, considerando que o número de inscritos mais do que duplicou, pois dos cerca de vinte e dois inscritos em 2014/2015 temos no presente ano de 2024/2025 cinquenta e um inscritos. Igualmente importante nas dinâmicas de atuação no domínio da museologia e do património cultural é o ingresso da Casa-Museu Elysio de Moura na Associação Portuguesa de Casas-Museu e na Coimbra | Rede de Museus logo em 2018, dois grupos de trabalho que permitem expandir os nossos horizontes profissionais e pessoais, através da realização de reuniões periódicas e da organização de atividades conjuntas regulares. Claro está que também nestas duas associações muitas são as pessoas que procuram contribuir na formação educacional e no bem-estar físico das nossas Meninas, seja pela organização de visitas acompanhadas nas várias instituições, seja pela realização de campanhas de angariação dos mais variados bens e consumíveis! E estas memórias afetivas ficam com as nossas Meninas. Como bem disse a Professora Doutora Carlota Simões, docente no mestrado de Património Cultural e Museologia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e orientadora da Dra. Valentina Battaglini no estágio curricular realizado em torno da exposição dedicada a Dona Celestina: “É impossível entrar nesta Casa [da Infância Doutor Elysio de Moura] e não se deixar envolver!”. E este é, sem dúvida, o melhor agradecimento e também o melhor reconhecimento que podemos alcançar.
(Archivoz) Como salientado, é Diretor da Casa-Museu Elysio de Moura, sendo bem conhecido o extraordinário trabalho que tem desenvolvido à frente dos destinos desta casa-museu. Que balanço faz do exercício dessas funções?
(Milton Pedro Dias Pacheco) Como muito bem diz o ditado popular: “Elogio em boca própria é vitupério”!!! Apesar de termos tido o privilégio de criar este projeto de raiz sem uma equipa afecta – contando apenas com a boa vontade colaborativa de muitos colegas –, julgamos que o balanço das nossas funções à frente da Casas-Museu Elysio de Moura são francamente positivas. Tendo sempre em mente a missão que nos foi confiada, a criação de um memorial aos mais dedicados benfeitores e protetores da nossa instituição – o Doutor Elysio e a Dona Celestina –, a inventariação, preservação, organização e divulgação do espólio que ambos legaram e a angariação de receitas para as nossas Meninas, entendo que todas essas etapas têm sido alcançadas muito positivamente. Cada plano de ação anual mantém o foco na formação de parcerias com instituições públicas e as empresas privadas de modo a criar as sinergias necessárias para assegurar a organização de eventos regulares, sobretudo projetos expositivos e encontros científicos. Impõe-se referir os vinte e um eventos científicos, congressos, colóquios e seminários, organizados pela ou em colaboração com a Casa-Museu Elysio de Moura entre 2018 e 2024. Neste mesmo período lográmos ainda firmar parcerias e obter apoios institucionais de algumas das mais importantes instituições museológicas nacionais, como o Museu Calouste Gulbenkian – Fundação Calouste Gulbenkian, o Museu Nacional de Arte Antiga, e o Museu Nacional de Machado de Castro; de instituições académicas: como a Universidade de Coimbra, a Universidade NOVA de Lisboa e a Universidade de Lisboa; de centros de investigação científica: como o Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos, o Centro de Literatura Portuguesa, o Centro de História da Sociedade e da Cultura e o CEIS20 – Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra, o CHAM – Centro de Humanidades da Universidade NOVA de Lisboa e da Universidade dos Açores, e o Centro de Investigação e Estudos em Belas Artes da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Menciono ainda várias associações científicas: a Academia Portuguesa de História, a Associação Portuguesa de Casas-Museu, o Centro Científico e Cultural de Macau, a Sociedade Portuguesa de Estudos Medievais e a Cátedra Institucional del Camino de Santiago y de las Peregrinaciones da Universidad de Santiago de Compostela, em Espanha. Todas estas menções demonstram bem, cremos, o grande dinamismo da Casa-Museu Elysio de Moura nas suas múltiplas realizações, que se projetam, naturalmente, no engrandecimento da nossa Casa da Infância Doutor Elysio de Moura. Mas gostaria de sublinhar que são as nossas Meninas quem mais nos motivam no quotidiano. Embora nem todas – para desgosto nosso – apreciem a disciplina de História, é impressionante como elas já conhecem bem os cuidados que os nossos patronos dedicaram às crianças que as precederam na instituição e têm a perfeita noção dos muitos esforços despendidos anteriormente. Partilho aqui apenas uma história muito brevemente. Após a realização de um conjunto de visitas de estudo na cidade, uma das nossas Meninas colocou-nos a seguinte questão: “Qual o motivo de a Casa do Doutor Elysio e da Dona Celestina não ser tão rica como outras casas? Só tem quadros pequenos…”. A esta questão respondemos com outra pergunta: “Achas que o Doutor Elysio e a Dona Celestina preferiram gastar o dinheiro com a casa onde viveram ou com as Meninas que então viviam no Colégio?”. A resposta foi imediata: “Ah, com as Meninas, claro!!” … esta resposta foi seguida de um sorriso gigante… num misto de orgulho e de satisfação pela resposta acertada! Portanto, tendo em conta que iniciámos este projeto em 2016 sem uma equipa de colaboradores e que entre os inícios de 2020 e os finais de 2022 enfrentámos uma pandemia a nível global, podemos considerar, sim, um balanço francamente positivo…. Na nossa opinião julgamos que muitos dos nossos colegas da investigação e da museologia deveriam conhecer as complexas realidades destas instituições, pois o seu envolvimento com as comunidades e os públicos nunca mais seria o mesmo!
(Archivoz) Um tema incontornável, desde meados de março de 2019 até há bem pouco tempo, foi o novo coronavírus (SARS-CoV 2) e a COVID-19. Como Diretor da Casa-Museu Elysio de Moura, quais foram os grandes desafios que enfrentou ao nível da organização do trabalho interno, do atendimento ao público e da difusão da informação? Que estratégias foram desenvolvidas para mitigar ou diminuir o impacto deste contexto tão negativo?
(Milton Pedro Dias Pacheco) O surto epidemiológico que nos trancou em casa e nos obrigou a fechar as portas da Casa-Museu permitiu, obedecendo às medidas implementadas pelo governo português, concluir alguns projetos de investigação em curso, avançar com outros trabalhos complementares de inventariação (que devem sempre ser analisados com uma aturada investigação, de modo a conhecer a proveniência, a aquisição e a função na residência agora musealizada) e, sobretudo, para avançar com alguns trabalhos de manutenção material sempre que o isolamento domiciliário era levantado. Bem, na verdade, nunca cumprimos os longos períodos de isolamento durante muito tempo, pois estivemos sempre ao serviço da Casa das nossas Meninas, movimentando-nos sempre com as devidas credenciais. Perante a situação conhecida de todos nós, parte das nossas funções neste período passaram pelo apoio, em todos os sectores, da Casa da Infância. Perante as muitas necessidades exigidas e de modo a evitar a saída das religiosas da Congregação do Amor de Deus da Casa da Infância Doutor Elysio que contactavam diariamente com as nossas Meninas, assumimos, com a maior responsabilidade e abnegado espírito de missão para com o próximo, as mais variadas tarefas: desde o pagamento das contas correntes da instituição até à aquisição de bens alimentares e higiénicos, passando ainda, naturalmente, pela recolha de donativos oferecidos por empresas e famílias. Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. E podemos afirmar, não sem alguma vaidade e orgulho, que as medidas implementadas pela instituição foram determinantes para que as nossas Meninas tivessem resistido às investidas do COVID 19 durante cerca de dezoito meses consecutivos, mesmo com muitos funcionários a adoecerem. Por tudo o que foi exposto, foi inevitável negligenciar parte de algum do nosso trabalho, enquanto diretor de uma unidade museológica, para assumir uma função de cuidador das nossas Meninas. E voltaríamos a repeti-lo, naturalmente, sem qualquer hesitação!
(Archivoz) Considerando o notável dinamismo que carateriza a Casa-Museu Elysio de Moura, quais os principais projetos e atividades em curso e os planeados para 2025?
(Milton Pedro Dias Pacheco) Neste momento, temos imensos projetos em cima da mesa, embora não saibamos ainda a viabilidade de execução de alguns deles, uma vez que dependem da aprovação de algumas candidaturas submetidas. Procuramos sempre obter algum financiamento externo a fim de evitar despesas que possam sobrecarregar a instituição. Entre os projetos destacaríamos a criação de um núcleo museológico dedicado ao legado de um outro grande benfeitor e protetor da nossa Casa da Infância Doutor Elysio de Moura, o Professor Doutor Aníbal Pinto de Castro [1938-2010], presidente da direção durante mais de vinte e cinco anos. Trata-se de um acervo que permite percorrer a biografia de um docente catedrático à frente de inúmeras instituições académicas, sociais e religiosas dentro e fora de Coimbra. De forma a assinalar os duplos centenários de D. Isabel de Aragão em 2025 – os 700 anos da sua peregrinação a Santiago de Compostela (1325-2025) e os 400 anos da sua canonização ocorrida em Roma (1625-2025) – vamos propor organizar uma exposição temporária centrada no espólio da Rainha Santa Isabel nas coleções de Aníbal Pinto de Castro, complementadas com outras peças da Casa-Museu Elysio de Moura, da Casa da Infância Doutor Elysio de Moura e de alguns colecionadores privados, até porque vamos programar um seminário dedicado a D. Isabel de Aragão e a D. Dinis de Portugal no ciclo de palestras entre Março e Julho de 2025. A realização desta exposição temporária, além de dar a conhecer uma parte importante das coleções de Aníbal Pinto de Castro e propiciar-nos participar nas duplas comemorações isabelinas, tem também por objetivo a angariação de fundos para o restauro de uma peça escultórica da Rainha Santa da nossa instituição, concebida segundo o modelo da escultura devocional de António Teixeira Lopes [1866-1942] e oferecida pela Rainha D. Amélia de Orleães e Bragança [1865-1951] à Igreja de Santa Isabel de Portugal no Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, em Coimbra. Temos ainda previsto um conjunto de iniciativas de modo a envolver as nossas Meninas em processos criativos de arte, música e teatro, em colaboração com algumas instituições coimbrãs. Contamos ainda avançar com uma campanha de intervenção física e de beneficiação material em dois espaços do Colégio de Santo António da Pedreira, exequíveis por exclusivo financiamento mecenático externo. Enfim, iremos continuar a participar em colóquios e congressos com o intuito de divulgar a missão da Casa da Infância Doutor Elysio de Moura e as coleções da sua Casa-Museu e a trabalhar para localizar, identificar e, sempre que possível, incorporar peças que pertenceram ao espólio do Doutor Elysio e da Dona Celestina e que terão sido vendidas para angariar receitas que garantissem a sustentabilidade financeira da instituição em momentos de maior dificuldade.
(Archivoz) Para terminar, quais pensa que são os grandes desafios que as casas-museus portuguesas e os respetivos profissionais têm de enfrentar, ao nível da organização, preservação e divulgação das respetivas coleções e acervos?
(Milton Pedro Dias Pacheco) O principal e o eterno problema das instituições museológicas ligadas à preservação do património arquitetónico, artístico e cultural, histórico e científico será sempre a carência dos recursos humanos que lhe estão afectos e a escassez de verbas destinadas às suas múltiplas funções, desde a conservação e manutenção até à divulgação. A realidade das casas-museus não é diferente da realidade dos principais museus nacionais e/ ou regionais, mesmo quando os números de técnicos diferem substancialmente, em proporção, quanto ao espaço expositivo e/ou às reservas afetas a cada instituição. Aliás, diria mesmo até que, salvo raras exceções, o mesmo acontece um pouco por todo o mundo. A Cultura parece ser sempre ou, mais bem dito, tem sido o elo mais fraco das nossas sociedades, independente das geografias continentais e das épocas históricas! Por isso, diríamos que o garante de recursos humanos, dos conservadores aos quadros técnicos, será o grande desafio de todas as instituições museológicas e unidades culturais. Complementarmente, julgamos que além do inevitável pedido de aumento de verbas destinadas a estas instituições que guardam a memória histórica de um povo, em diferentes escalas geográficas e humanas, é primordial procurar aproximar as instituições de ensino superior às casas-museus de modo a avançar com novos estudos em torno das coleções museológicas, dos próprios edifícios que acolhem estas e até das próprias biografias dos seus principais promotores. Apesar da qualidade e até da raridade de algumas coleções existentes em várias casas-museus disseminadas um pouco por todo o país, estas ainda são bastante desconhecidas do grande público e, por vezes, seriamente ignoradas pelos especialistas do sector da museologia. No âmbito dos protocolos assinados com a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, recebemos este ano uma estagiária, a Dra. Valentina Battaglini, com o objetivo de estudar, no âmbito do mestrado de Património Cultural e Museologia, a coleção de bens pessoais pertencentes à Senhora Dona Celestina de Araújo Salgado Zenha de Azevedo e Moura. Consolidado o projeto de estudo sob a nossa coordenação científica, foi possível conceber dois projetos singulares para encerrar as comemorações do I Centenário da Presidência de Elysio de Moura à frente do governo da Casa da Infância (1923-2023): a exposição temporária: Na Intimidade da Casa. Joias, adereços e pertences de Celestina Salgado Zenha, inaugurada em 18 de maio, no âmbito do Dia Internacional dos Museus, e o colóquio Celestina Salgado Zenha. A sua época e o seu legado, celebrado no dia 18 de junho, data celebrativa da instituição da Casa da Infância Doutor Elysio de Moura em que se assinala o falecimento do nosso patrono, o Doutor Elysio de Moura, ocorrido em 18 de junho de 1977. São sempre estas novas sinergias que permitem avançar e concluir velhos projetos… pelo menos assim o entendemos! E se nos permite, apesar da conversa já extensa, usaríamos, para encerrar, um pensamento pessoal, transversal a toda a nossa entrevista: trabalhar neste projeto da Casa-Museu Elysio de Moura, mesmo sem uma equipa e com recursos financeiros limitados é, em nosso entender, o melhor de dois mundos. Nada nos dá maior satisfação do que disponibilizar o nosso conhecimento e concentrar todos os nossos esforços ao serviço de quem mais precisa: as Meninas do Doutor Elysio e da Dona Celestina! E termino endereçando, com gratidão, a todos os leitores o convite para visitarem a Casa-Museu Elysio de Moura – uma Ca(u)sa para a Infância –, para ficarem a conhecer e poderem partilhar as memórias afetivas de uma instituição singular da cidade de Coimbra.
Entrevistado
Milton Pedro Dias Pacheco
Diretor da Casa-Museu Elysio de Moura
Milton Pedro Dias Pacheco é licenciado em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, instituição académica onde obteve o grau de mestre e frequenta o programa de doutoramento em História da Arte. Após ter integrado o Gabinete de Candidatura da UNESCO da Universidade de Coimbra – conjunto patrimonial Universidade de Coimbra: Alta e Sofia classificado em 2013 – e o Departamento de Bens Culturais da Diocese de Coimbra, assume, atualmente, funções de diretor na Casa-Museu Elysio de Moura, em Coimbra. A sua área profissional centra-se em dois eixos principais: a investigação académica, com trabalhos científicos dedicados à arquitetura palaciana de instituições régias, episcopais, inquisitoriais e diplomáticas, à hagiografia régia e à iconografia camoniana; e à disciplina da museologia, com a conceção e a coordenação de projetos em museus e casas-museu, o estudo de coleções de arte e metodologias de colecionismo, e a organização de exposições permanentes e temporárias. Neste âmbito apresentou mais de uma centena de comunicações e palestras em Portugal, Alemanha, Áustria, Brasil, Bélgica, Escócia, Espanha, França, Grécia, Inglaterra, Itália e Suécia, das quais resultou a publicação de livros, capítulos de livros, artigos e entradas de catálogos de exposições. É investigador integrado no CHAM – Centro de Humanidades da Universidade NOVA de Lisboa e da Universidade dos Açores, assistente de investigação no Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos da Universidade de Coimbra, vice-presidente e tesoureiro na Direção da Associação Portuguesa de Casas-Museu, cocoordenador do grupo de gestão na Coimbra | Rede de Museus e secretário no Conselho Fiscal da Sociedade Portuguesa de Estudos de História da Construção.
Entrevistador
Paulo Batista
Membro da equipa editorial Brasil e Portugal
É técnico superior no Arquivo Municipal de Lisboa, e coordenador professor das pós-graduações em Promoção e Dinamização Cultural e Educativa em Arquivos e Bibliotecas, e em Arquivos de Arquitetura, da Universidade Autónoma de Lisboa. Possui Doutoramento em Documentación pela Universidad de Alcalá. Investigador integrado do CIDEHUS.UE, onde coordena o grupo de investigação Património(s) e Literacias. É académico da Academia Portuguesa da História e secretário da Comissão Executiva da Secção de Arquivos de Arquitetura do Conselho Internacional de Arquivos.